No Brasil, se você lê mais do que 3 livros inteiros por ano, você faz parte de uma minoria
Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê. A frase de Monteiro Lobato expressa bem as consequências da pouca leitura. Baixo desempenho dos estudantes e consideráveis números de analfabetismo funcional entre adultos, certamente, são alguns dos reflexos do fraco hábito da leitura entre nós.
No dia 11 de setembro deste ano, o Instituto Pró-Livro, em parceria com o Itaú Cultural, divulgou a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Os resultados não são bons, mas não surpreendem quem acompanhou as edições anteriores, praticamente com os mesmos indicadores. A 5ª edição contou com mais de 8 mil pessoas entrevistadas, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020, em 208 municípios pelo país.
De acordo com os resultados apresentados, a média de leitura, no Brasil, seria de 5 livros por ano. Ocorre que, na verdade, 2 ou 3 livros foram realmente lidos por inteiro. Além disso, cerca de 30% da população nunca comprou um livro. A título de comparação, a Argentina apresenta uma média de 5 livros inteiros por ano, Chile quase 6, a França apresentou recentemente uma média de 21 livros por ano, a Alemanha já apresentou indicadores de 12 a 50 livros por ano. E nós ficamos em 3 livros.
Adiante, os entrevistados respondiam a pergunta se “Gostariam de ter lido mais?”, e 82% afirmaram que sim. “Mas por que não leu mais?” – entre os motivos elencados, disparado ficou (1) a falta de tempo, seguido de (2) porque prefere outras atividades, e (3) porque não tem paciência para ler.
Tudo muito compreensível. Mas a pesquisa seguia, então, perguntando sobre “O que faz no tempo livre?”, afinal a falta de tempo fora responsabilizada como a maior barreira para a leitura. Depois assistir tv, usar a internet, ouvir música ou rádio, usar o whatsapp, redes sociais, lá em 11º lugar ficou a leitura. Um prato cheio para a psicologia social: as mesmas pessoas que admitiam desejar ter lido mais, mas que não o fazem por falta de tempo, quando o tem, não o fazem.
A maioria dos entrevistados admitiu que reconhece na leitura o meio de aquisição de conhecimento, de melhorar a maneira de viver e compreender o mundo, mas, na realidade, pouco esforço emprega nessa atividade. Muitas pessoas gostam da imagem de ser um leitor frequente e admitem ser este um bom caminho, mas acabam ficando na imagem. Infelizmente, a figura do doutor Segadas diante das estantes de livros de Policarpo Quaresma ainda paira em nossos ares. E não parece dar sinais de querer ir embora.